Leia a crônica de Fernando Reinach para responder à questão.
Todos sentimos raiva quando injustiçados. Possuímos um senso profundo do que é justo ou injusto. Durante séculos se acreditou que o sentimento de justiça fosse uma característica adquirida pelo Homo sapiens durante sua educação. Nosso lado animal, agressivo e egoísta, seria domado durante a infância, criando adultos justos e capazes de se indignar frente à injustiça.
Mas, em 2003, o primatólogo Frans de Waal publicou um experimento clássico. Colocou dois macacos em jaulas vizinhas e os treinou para que devolvessem pedras colocadas no interior do recinto. Para cada pedra entregue eles recebiam uma fatia de pepino. Mas algo espantoso acontecia quando um dos macacos era recompensado com uma uva em vez de uma fatia de pepino. O macaco que recebia a uva ficava feliz e continuava a entregar as pedras. Mas o outro, que podia observar o pagamento superior recebido pelo vizinho (a uva) se revoltava. Parava de entregar a pedra ou atirava o pepino no cientista.
Frans de Waal e a psicóloga e neurocientista Sarah Brosnan nos contam o que foi descoberto nos últimos 10 anos.
Observou-se que diversos animais têm aversão à injustiça, inclusive os cachorros. Esta característica só foi observada em animais sociais, em que existe cooperação entre indivíduos de uma mesma espécie, como macacos e lobos.
Um novo tipo de comportamento foi detectado, mas agora somente em chimpanzés e crianças humanas. É a chamada aversão secundária à injustiça. Nesse experimento, foi demonstrado que em certas situações o chimpanzé ao qual é oferecido o pagamento mais valioso (uva) se recusa a recebê-lo, a não ser que seu par receba a mesma gratificação ou uma semelhante. Esse comportamento é explicado da seguinte maneira: o macaco bem pago é capaz de prever a reação negativa do macaco mal pago. Antevendo essa reação, ele evita a injustiça, apostando na possibilidade de continuar a colaborar com seu parceiro no futuro. Ele abre mão da remuneração maior para garantir o “emprego” de ambos no futuro. Nada mal para um macaco, algo muito difícil de observar entre seres humanos adultos, mas quase automático entre crianças de até 4 anos.
O que os novos estudos demonstram é que a aversão à injustiça e os comportamentos que garantem a continuidade da colaboração são uma característica biológica, hereditária, e, portanto, independente do aprendizado ou da cultura. A conclusão é que os macacos e o homem já nascem com um instinto de justiça, semelhante ao da fome e ao sexual.
Portanto, é ilusão imaginar que temos de ser educados para nos tornarmos justos. E, pior, se existe uma influência da educação, ela pode ter o efeito oposto. É possível imaginar que a educação ocidental inibe nosso senso inato de justiça, nos transforma em seres competitivos e mesquinhos, que dificilmente trocam uma vantagem econômica pela chance de continuar a colaborar com os parceiros no futuro.
(Folha de lótus, escorregador de mosquito, 2018. Adaptado.)
Assinale a alternativa em que a oração sublinhada exerce função de sujeito de outra oração.