TEXTO
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Meu avô me levava sempre em suas visitas de corregedor às terras de seu engenho. Ia ver de perto os seus moradores, dar uma visita de senhor nos seus campos. O velho José Paulino gostava de percorrer a sua propriedade, de andá-la canto por canto, entrar pelas suas matas, olhar as suas nascentes, saber das precisões de seu povo, dar os seus gritos de chefe, ouvir queixas e implantar a ordem. Andávamos muito nessas suas visitas de patriarca. Ele parava de porta em porta, batendo com a tabica de cipó-pau nas janelas fechadas. Acudia sempre uma mulher de cara de necessidade: a pobre mulher que paria os seus muitos filhos em cama de vara e criava-os até grandes com o leite de seus úberes de mochila. Elas respondiam pelos maridos:
— Anda no roçado.
— Está doente.
— Foi pra rua comprar gás.
Outras se lastimavam de doenças em casa, com os meninos de sezão e o pai entrevado em cima da cama. E quando o meu avô queria saber por que o Zé Ursulino não vinha para os seus dias no eito, elas arranjavam desculpas:
— Levantou-se hoje do reumatismo.
O meu avô então gritava:
— Boto pra fora. Gente safada, com quatro dias de serviço adiantado e metidos no eito do Engenho Novo. Pensam que eu não sei? Toco fogo na casa.
— É mentira, seu coronel. Zé Ursulino nem pode andar. Tomou até purga de batata. O povo foi contar mentira pro senhor. Santa Luzia me cegue, se estou inventando.
E os meninos nus, de barriga tinindo como bodoque. E o mais pequeno na lama, brincando com o borro sujo como se fosse com areia da praia.
— Estamos morrendo de fome. Deus quisera que Zé Ursulino estivesse com saúde.
— Diga a ele que pra semana começa o corte da cana.
(REGO, José Lins do. Menino de engenho. 102. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2010. p. 57-58.)
No catolicismo popular, a devoção a Santa Luzia, referida no Texto, está relacionada à visão. Sua hagiografia conta que ela foi uma mártir cristã da época das perseguições promovidas pelo imperador Diocleciano (284-305 d.C.) e teve os olhos arrancados. Sobre a cristianização do Império Romano, analise as afirmações a seguir:
I - A estratégia de perseguição teve efeito inverso, pois, mesmo sem a política de tolerância implantada no início do século IV, a fé cristã não parou de expandir-se, principalmente entre as classes mais baixas do Império.
II - O que motivou as perseguições aos cristãos foi o fato de eles renegarem o culto ao imperador. Desde a época de Augusto (27 a.C.-14 d.C.), havia ritos específicos que lhe conferiam uma aura divina.
III - As perseguições e os martírios foram causados, principalmente, pelo fato de os cristãos liderarem várias revoltas escravas, guiados pelos princípios da igualdade de todos e do amor ao próximo.
Assinale a alternativa cujos itens são todos corretos: