Texto 6:
Novo algoritmo1 ajuda cientistas a prever casos de psicose (Giuliana Miranda)
Um time internacional de cientistas, com participação brasileira, criou um algoritmo que consegue analisar a fala de pacientes psiquiátricos e prever aqueles que irão desenvolver uma psicose.
A identificação de características que permitam a antecipação do surto é considerada bastante complicada pelos profissionais da área.
"O pródromo [nome técnico para identificação de sinais de uma doença antes que os sintomas mais específicos apareçam] é ainda muito complicado na psicose", avalia Helio Elkis, coordenador do Programa de Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria da USP, que não participou do trabalho.
O experimento teve um número reduzido de participantes, mas funcionou como uma prova de que o método é funcional.
O EXPERIMENTO
Cientistas entrevistaram, uma vez a cada três meses por um período de dois anos e meio, 34 jovens em situação de risco – algum sintoma mais leve de problema psiquiátrico – e que buscaram ajuda especializada. Os cientistas transcreveram as entrevistas e analisaram o discurso dos pacientes levando em consideração critérios sintáticos, como a estrutura e o tamanho das frases, bem como questões semânticas.
1Sequência de raciocínios ou operações que identifica sintomas ou oferece a solução a certos problemas.
Após dois anos e meio de acompanhamento, cinco desses 34 jovens desenvolveram uma psicose, termo amplo que engloba doenças como a esquizofrenia e o transtorno bipolar. O algoritmo conseguiu prever 100% dos casos.
Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e um dos autores do trabalho, a técnica poderia fornecer as bases para criar um método com critérios claros para "prever" os pacientes em risco.
O time de cientistas responsáveis pelo experimento não descarta que o algoritmo possa ser usado, no futuro, para criar um exame ou um aplicativo que identifique rapidamente os pacientes com alto risco. "Ainda é cedo para falar nisso. Mas a ideia é criar parâmetros de referência, como os que existem em outras áreas. Esse método poderia ser o que o raio-X é para a ortopedia, ou o que o hemograma é para a clínica médica", avalia Ribeiro.
ÁREA PROMISSORA
Métodos de análise do discurso têm sido uma área promissora no diagnóstico de transtornos psiquiátricos.
Pacientes com esquizofrenia, uma das psicoses mais conhecidas, têm vários sintomas perceptíveis na fala, inclusive um certo grau de confusão e repetição. O que os algoritmos dos cientistas fazem é automatizar o processo de identificação, que hoje é feito pelos ouvidos atentos dos psiquiatras nos consultórios.
Segundo Sidarta Ribeiro, que participou também de estudos anteriores, um diferencial deste trabalho é que o sistema desenvolvido considera não apenas a forma como os pacientes se expressam, mas também o significado do que eles dizem.
A pesquisa foi feita, em inglês, com pacientes no exterior, mas os cientistas envolvidos dizem que o método funciona em seis línguas ocidentais, incluindo o português e o espanhol.
Cientistas ainda divergem quanto à melhor abordagem para os pacientes identificados com alto risco. Segundo Helio Balkis, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, pesquisadores tanto no Brasil quanto no exterior ainda estão tentando encontrar o melhor método terapêutico para esses casos. Já Sidarta Ribeiro afirma que há benefícios claros na prevenção com um diagnóstico precoce. "A identificação precoce dos pacientes pode ajudar a criar estratégias melhores de tratamento", afirma.
Adaptado de: MIRANDA, Giuliana. Novo algoritmo ajuda cientistas a prever casos de psicose. In.: Folha de São Paulo. 4 set. 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/09/1677637-novo-algoritmo-ajuda-cientistas-a-prever-casosde-psicose.shtml. Acesso em: 9 set. 2015.
Texto 7:
Redes sociais podem favorecer psicopatas do cotidiano (Nilsen Silva)
O chefe obsessivo, a namorada sempre desconfiada, o amigo que só consegue falar de si mesmo. Lembrou de alguém? Basta olhar ao redor para reconhecer diversas pessoas de difícil convívio. Todos nós temos manias, uma lista de coisas que incomodam e dificuldades de adaptação. O problema é quando isso se torna algo frequente, fazendo com que as pessoas mais próximas se sintam abusadas, invadidas e insuficientes.
"Numa linguagem mais popular, parece que nossa energia está sendo sugada. O indivíduo 'morde e assopra' e deixa os outros 'pisando em ovos', com uma incômoda impressão de impotência. Suas relações são marcadas pela existência de um padrão que dificulta a ação de quem está ao redor. A vida gira em torno desse “sequestrador de emoções alheias", resume a psiquiatra Katia Mecler no livro “Psicopatas do Cotidiano".
Pessoas com traços de personalidade patológicos de forma duradoura podem ser consideradas psicopatas do cotidiano.
Pessoas que exibem de forma duradoura, desde a adolescência ou início da vida adulta, um ou mais traços de personalidade patológicos podem ser consideradas psicopatas do cotidiano.
"Não se trata de uma doença mental. Os psicopatas do cotidiano não perdem o juízo da realidade. Tampouco seus sintomas aparecem na forma de surtos, com delírios e alucinações, como em casos de esquizofrenia, transtorno bipolar, e outras psicoses", explica a autora em entrevista à Livraria da Folha.
Em menor ou maior grau, todos podemos apresentar traços de personalidade disfuncionais. Porém, o que caracteriza um traço patológico de personalidade são danos e prejuízos em relacionamentos íntimos, familiares, sociais e profissionais. 13
As redes sociais podem ter um grande papel nisso. Em uma época em que a aparência muitas vezes vale mais do que o conteúdo, o Facebook, por exemplo, facilmente pode se transformar em uma plataforma que favorece psicopatas do cotidiano, sendo um lugar para exacerbar sentimentos diversos.
"É um meio muito facilitador para as pessoas com esses traços [...] O problema é o mau uso que muitos indivíduos fazem das redes. Vivemos num tempo em que se dá mais importância ao que temos ou ao que aparentamos do que ao que somos ou construímos".
Mecler explica que a Associação Americana de Psiquiatria classifica dez transtornos específicos de personalidade, divididos em três grupos. No Grupo A, estão esquizoides, esquizotípicos e paranoides. No B, antissociais, borderlines, histriônicos e narcisistas. No C, dependentes, evitativos e obsessivo-compulsivos.
Psicopatas, por exemplo, são associados aos transtornos de personalidade do Grupo B, especialmente o tipo antissocial. O transtorno que caracteriza um assassino está relacionado com traços patológicos de personalidade como manipulação, ausência de remorso, frieza, mentira, transgressão e sedução. "Mas de forma alguma podemos dizer que todo assassino tem TP antissocial ou que o indivíduo com esses traços cometerá crimes", frisa Mecler.
Ela ainda explica que a prevalência dos transtornos de personalidade na população em geral vem sendo estimada em torno de 10%. Entretanto, o contexto sociocultural pode favorecer a exposição maior de um determinado traço patológico de personalidade.
Existe tratamento?
Transtornos de personalidade podem ser identificados a partir de um comportamento excessivo. Ou seja, pessoas perfeccionistas demais, tímidas demais, muito teatrais ou instáveis em demasia, que causam estranheza pelo excesso. É importante ressaltar que a pessoa se comporta do mesmo jeito com todos e sempre age da mesma maneira em determinadas situações – e, em geral, não reconhece que tem um problema.
É comum se questionar sobre uma cura, mas a psiquiatra afirma que não existe uma. "O melhor caminho é buscar ajuda especializada para aprender a lidar e a se proteger emocionalmente, sem ter sua autoestima e integridade psicológica reduzidas a pó. Entender o problema e evitar confrontos desnecessários é um bom caminho".
Adaptado de: SILVA, Nilsen. Redes sociais podem favorecer psicopatas do cotidiano. In.: Livraria da Folha. 26 ago. 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2015/08/1673779-redes-sociais-podem-favorecer-psicopatas-docotidiano-leia-entrevista.shtml. Acesso em: 9 set. 2015.
Verifique quais afirmativas seguintes estão em plena conformidade com o Texto 6:
I. Um algoritmo criado por um grupo de cientistas internacionais, com participação de brasileiros, tem a fala como elemento determinante de futuras psicoses que podem ser apresentadas, segundo a psiquiatria.
II. A previsão de características da fala que identifiquem um possível surto psicótico ainda é considerada bastante complexa pelos profissionais da área.
III. Helio Elkis afirma que o pródromo é um tipo de psicose identificada antes que os sintomas mais específicos apareçam como manifestação da doença.
IV. O número reduzido de cientistas do grupo que criou o algoritmo não compromete a funcionalidade do método de análise da fala.
V. Todos os jovens participantes do experimento que buscaram ajuda especializada, apesar da atitude preventiva, apresentavam risco iminente de surto psicótico.
VI. Os critérios que identificam a função dos componentes da frase, tais como verbos e substantivos, foram determinantes para a criação do algoritmo.
VII. O algoritmo criado pelos cientistas e aplicado ao experimento de 34 jovens conseguiu identificar cem por cento dos casos dos futuros portadores de surtos psicóticos, sem considerar casos de esquizofrenia e de transtorno bipolar.
VIII. Sidarta Ribeiro afirma que a aplicação do algoritmo criou um método com critérios claros para a identificação de pacientes em risco.
IX. Elkis afirma que a ideia é criar parâmetros de referência, como os que existem em outras áreas e que esse método poderia ser o que o raio-X é para a ortopedia, ou o que o hemograma é para a clínica médica.
X. Os 34 jovens pesquisados apresentavam-se em situação de risco, ou seja, com algum sintoma mais leve de problema psiquiátrico.
A soma dos números romanos das afirmações corretas é: