VOCÊ SABE O QUE ESTÃO ENSINANDO A ELE?
Uma pesquisa mostra que para os brasileiros tudo vai bem nas escolas. Mas a realidade é bem menos rósea: o sistema é medíocre.
Monica Weinberg e Camila Pereira
[1] Vamos falar sem rodeios. Em boa parte dos lares brasileiros,
uma conversa em família flui com muito mais vigor e participação
quando se decide a assinatura de novos canais a cabo, o destino das
próximas férias ou a hora de trocar de carro do que quando se discu-
[5] te sobre o que exatamente o Júnior está aprendendo na escola.
Quando e se esse assunto é levantado, ele se resumirá às notas obti-
das e a algum evento extraordinário de mau comportamento, como
ter sido pego fumando no corredor ou ter beliscado o traseiro da pro-
fessora de geografia. O quadro acima é um tanto anedótico, mas
[10] tem muito de verdadeiro. De modo geral, com as nobilíssimas exce-
ções que todos conhecemos, os pais brasileiros de todas as classes
não se envolvem como deveriam na vida escolar dos filhos. Os mais
pobres dão graças aos céus pelo fato de a escola fornecer merenda,
segurança e livros didáticos gratuitos. Os pais de classe média se
[15] animam com as quadras esportivas, q limpeza e a manifesta tole-
rância dos filhos quanto às exigências acadêmicas muitas vezes cali-
bradas justamente para não forçar o ritmo dos menos capazes. Uma
pesquisa encomendada por VEJA à CNT/Sensus traduz essa situação
em números. Para 89% dos pais com filhos em escolas particulares,
[20] o dinheiro é bem gasto e tem bom retorno. No outro campo, 90%
dos professores se consideram bem preparados para a tarefa de en-
sinar. Como mostra a Carta ao Leitor desta edição, sob sua plácida
superfície essa satisfação esconde o abismo da dura realidade — o
ensino no Brasil é péssimo, está formando alunos despreparados pa-
[25] ra o mundo atual, competitivo, mutante e globalizado. Em compara-
ções internacionais, os melhores alunos brasileiros ficam nas últimas
colocações — abaixo da quinquagésima posição em competições com
apenas 5/ países.
À reportagem que se vai ler pretende chamar atenção para as
[30] raízes dessa cegueira e contribuir para que pais, professores, educa-
dores e autoridades acordem para a dura realidade cuja reversão vai
exigir mais do que todos estão fazendo atualmente — mesmo os que,
como é o caso em especial dos pais, acreditam estar cumprindo
exemplarmente sua função. Em Procura da Poesia, o grande Carlos
[35] Drummond de Andrade provê uma metáfora eficiente do que o desa-
fio de melhorar a qualidade da educação exigirá da atual geração de
brasileiros: "O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia”. Uni-
formizar, alimentar, dar livros didáticos aos jovens e perguntar como
foi o dia na escola é fundamental, mas isso ainda não é educação
[40] para o século XXI. "Chega mais perto e contempla as palavras. Cada
uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem in-
teresse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a
chave?”, continua nosso maior poeta, morto em 1987. Outra metá-
fora exata. Os jovens estudantes são como as palavras, com mil fa-
[45] ces secretas sob a face neutra e esperando as chaves que lhes abram
os portais de uma vida pessoal e profissional plena.
Isso só se conseguirá, como mostra a pesquisa encomendada por
VEJA, quando o otimismo com o desempenho do sistema, que é
também compartilhado pelos alunos, for transformado em radical in-
[50] conformismo. À fagulha de mudança pode ser acendida com a cons-
tatação de que as escolas que pais, alunos e professores tanto elogi-
am são as mesmas que devolvem à sociedade jovens incapazes de
ler e entender um texto, que se embaralham com as ordens de gran-
deza e confiam cegamente em suas calculadoras digitais para não
[55] apenas fazer contas mas substituir o pensamento lógico. Mais uma
vez abusa-se do recurso da generalização para que o mérito indivi-
dual de alguns poucos não dilua a constatação de que o complexo
educacional brasileiro é medíocre e não se enxerga como tal. Quan-
do um conselho de notáveis americanos fez a célebre condenação do
[60] sistema de ensino do país ("parece ter sido concebido pelo pior ini-
migo dos Estados Unidos...”), as pesquisas de opinião mostravam
que q maioria dos americanos estava plenamente satisfeita com suas
escolas. À comissão viu mais longe e soou o alarme. Agora no Brasil
o mesmo senso de realidade e urgência se faz necessário, como re-
[65] sume Claudio de Moura Castro, ensaísta, pesquisador e colunista de
VEJA: "Uma crise, uma crise profunda. Só isso salva nossa educa-
ção”.
Fonte: Revista VEJA | Edição 2074 | 20 de agosto de 2008
Em relação às autoras, é possível afirmar que elas
I estão indignadas com a falta de participação dos pais na vida escolar de seus filhos.
II concordam com os pais e professores que acreditam na alta qualidade da educação brasileira.
III acreditam que os jovens estudantes brasileiros vêem a educação como uma chave que lhes pode abrir as portas para um futuro melhor.
IV clamam pela mudança da realidade educacional do país, para que possamos nos desenvolver plenamente como nação.
Estão corretas