Para responder à questão, leia um trecho da obra Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga (1744- 1810).
Agora, Fanfarrão, agora falo
Contigo, e só contigo. Por que causa
Ordenas que se faça uma cobrança
Tão rápida, e tão forte contra aqueles,
Que ao Erário1 só devem tênues somas?
Não tens Contratadores2, que ao Rei devem
De mil cruzados centos, e mais centos?
Uma só quinta parte, que estes dessem,
Não matava do Erário o grande empenho?
O pobre, porque é pobre, pague tudo;
E o rico, porque é rico, vai pagando
Sem soldados à porta, com sossego!
Não era menos torpe, e mais prudente,
Que os devedores todos se igualassem?
Que, sem haver respeito ao pobre, ou rico,
Metessem no Erário um tanto certo,
À proporção das somas que devessem?
Indigno, Indigno Chefe! Tu não buscas
O público interesse. Tu só queres
Mostrar ao sábio Augusto3 um falso zelo;
Poupando ao mesmo tempo os devedores,
Os grossos devedores, que repartem
Contigo os cabedais4, que são do Reino.
(Cartas chilenas, 2006.)
1 erário: conjunto dos recursos financeiros públicos; os dinheiros e bens do Estado.
2 contratador: aquele que negocia com mercadorias; negociante, comerciante.
3 augusto: na Roma Antiga, título dado a alguns imperadores.
4 cabedal: posses materiais ou recursos financeiros; bens, riquezas.
“Indigno, Indigno Chefe! Tu não buscas
O público interesse. Tu só queres
Mostrar ao sábio Augusto um falso zelo;”
No trecho, a expressão destacada exerce a função sintática de