Leia o texto.
Ilharga, osso, algumas vezes é tudo o que se tem.
Pensas de carne a ilha, e majestoso o osso.
E pensas maravilha quando pensas anca
Quando pensas virilha pensas gozo.
Mas tudo mais falece quando pensas tardança
E te despedes.
E quando pensas breve
Teu balbucio trêmulo, teu texto-desengano
Que te espia, e espia o pouco tempo te rondando a ilha.
E quando pensas VIDA QUE ESMORECE. E retomas
Luta, ascese, e as mós vão triturando
Tua esmaltada garganta... Mas assim mesmo
Canta! Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas...
Canta o começo e o fim. Como se fosse verdade
A esperança.
(HILST, Hilda. Cantares. São Paulo: Globo, 2002, p. 25.)
Acerca dos elementos linguísticos mobilizados no poema como recursos expressivos, são feitas as seguintes afirmações:
I. A fim de reforçar a metáfora central do corpo como “ilha”, esta palavra aparece repetida não apenas expressamente em dois versos, mas também sonora e graficamente dentro de outros vocábulos do texto.
II. No décimo verso, a oitava e última ocorrência da forma conjugada do verbo “pensar” introduz no texto o corte entre o devaneio e a ação, marcando a renúncia às exigências do corpo e a reação ao esmorecimento advindo da reflexão sobre a fugacidade da vida e os efeitos do tempo, em favor da expressão poética do canto.
III. Nos últimos versos do texto, a repetição do verbo “cantar”, conjugado na terceira pessoa do singular do Presente do Indicativo, cria um efeito de humanização e de autonomização da obra poética, apesar da condição de esfacelamento do sujeito lírico.
É correto o que se afirma APENAS em