Questões de Literatura - Literatura portuguesa - Escolas Literárias
Leia o soneto de Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, também conhecida como Marquesa de Alorna, para responder à questão.
Feliz esse mortal que se contenta
Com a herdade1
dos seus antepassados,
Que livre de tumulto e de cuidados
Só do pão que semeia se alimenta.
Dentre os filhos amados afugenta
A discórdia cruel; vê dos seus gados,
Sempre gordos, alegres, bem tratados,
Numeroso rebanho que apascenta.
O trono mais ditoso é comparável
Ao brando estado deste que não sente
De um espectro de ouro o peso formidável?
O que vive na Corte mais contente
Provou nunca um prazer tão agradável
Como o deste Pastor pobre, inocente?
(Sonetos, 2007.)
1herdade: propriedade rural de dimensões consideráveis; fazenda.
Uma característica da estética árcade presente no soneto é
Leia o poema “Ao entardecer” de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, para responder à questão.
Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas coisas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai
[andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...
(www.dominiopublico.gov.br)
O eu lírico recorre a um paradoxo no verso:
Carpe diem. É um lema latino que significa, lato sensu, “aproveita bem o dia” ou “aproveita o momento fugaz”. Esta expressão tem paralelo em línguas modernas, como no inglês: “Take time while time is, for time will away”.
(Carlos Alberto de Macedo Rocha. Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa, 2011. Adaptado.)
Tal lema manifesta-se mais explicitamente nos seguintes versos de Fernando Pessoa
“É certo que eu, num dos meus passeios desabridos, quando o céu afuzilava relâmpagos, fui caminho de Sintra, e vi na balaustrada de uma varanda, com os olhos postos no ocidente tempestuoso, uma mulher, que se me afigurou a pomba da boa nova ao quadragésimo dia do dilúvio”.
BRANCO, Camilo Castelo, Coração, cabeça e estômago. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1960, p. 455.
Dentre as alternativas abaixo, qual recurso literário podemos identificar no excerto acima?
Assinale a resposta CORRETA.
Leia o trecho da cantiga medieval galego-portuguesa, em que o eu lírico pede a Deus que lhe permita ver a mulher amada ou então que lhe dê a morte.
A dona que eu amo e tenho por senhor
amostrade-mi-a, Deus, se vos en prazer for,
senom dade-mi a morte.
A que tenho eu por lume destes olhos meus
e por que choram sempre, amostrade-mi-a, Deus,
senom dade-mi a morte.
(Bernal de Bonaval. https://cantigas.fcsh.unl.pt. Adaptado.)
Por suas características, essa obra poética é típica do movimento literário conhecido como
Leia o fragmento retirado do livro Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, e responda a questão.
O ferimento de Simão Botelho era melindroso demais para obedecer prontamente ao curativo do ferrador, enfronhado em aforismos de alveitaria. A bala passara-lhe de revés a porção muscular do braço esquerdo; mas algum vaso importante rompera, que não bastavam compressas a vedar-lhe o sangue. Horas depois de ferido, o acadêmico deitou-se febril, deixando-se medicar pelo ferrador. O arreeiro partiu para Coimbra, encarregado de espalhar a notícia de ter ficado no Porto, Simão Botelho.
Mais que as dores e o receio da amputação, o mortificava a ânsia de saber novas de Teresa. João da Cruz estava sempre de sobre-rolda, precavido contra algum procedimento judicial por suspeitas dele. As pessoas que vinham de feirar na cidade contavam todas que dois homens tinham aparecido mortos, e constava serem criados dum fidalgo de Castro d’Aire, ninguém, porém, ouvira imputar o assassínio a determinadas pessoas. Na tarde desse dia recebeu Simão a seguinte carta de Teresa:
"Deus permita que tenhas chegado sem perigo à casa dessa boa gente. Eu não sei o que se passa, mas há coisa misteriosa que eu não posso adivinhar. Meu pai tem estado toda a manhã fechado com o primo, e a mim não me deixa sair do quarto. Mandou-me tirar o tinteiro; mas eu felizmente estava prevenida com outro. Nossa Senhora quis que a pobre viesse pedir esmola debaixo da janela do meu quarto; senão, eu nem tinha modo de lhe dar sinal para ela esperar esta carta. Não sei o que ela me disse. Falou-me em criados mortos; mas eu não pude entender... Tua mana Rita está-me acenando por trás dos vidros do teu quarto...
Disse-me agora tua mana que os moços de meu primo tinham aparecido mortos perto da estrada. Agora já sei tudo. Estive para lhe dizer que tu aí estás, mas não me deram tempo. Meu pai de hora a hora dá passeios no corredor, e solta uns ais muitos altos.
Ó meu querido Simão, que será feito de ti?... Estás ferido? Serei eu a causa da tua morte? Dize-me o que souberes. Eu já não peço a Deus senão a tua vida. Foge desses sítios: vai para Coimbra, e espera que o tempo melhore a nossa situação. Tem confiança nesta desgraçada, que é digna da tua dedicação... Chega a pobre: não quero demorá-la mais... Perguntei-lhe se se dizia de ti alguma coisa, e ela respondeu que não. Deus o queira".
BRANCO, Camilo Castelo. Amor de perdição. 2ª ed. Barueri: Ciranda Cultural, 2017. p. 47-48.
Assinale a alternativa correta sobre Amor de perdição.
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