Questões de Português - Gramática - Versificação - Estrofação
FAMÍLIA
Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.
O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.
Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.
No poema de Drummond,
ali
só
ali
se
se alice
ali se visse
quando alice viu
e não disse
se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce
ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
Caprichos e relaxos. Toda poesia. Paulo Leminski.
I. O poema acima é marcado pelo emprego de uma melopeia intensa, cuja musicalidade se sustenta pelos sons sibilantes.
II. O eu-lírico do poema se aproveita de uma fanopeia livre, com imagens tênues.
III. O poema traz um jogo de ideias, logopeia que se materializa pelo jogo de palavras construído pelo uso de marcadores argumentativos.
IV. O emprego de vocábulos fonológicos e fonográficos participa tanto do jogo fanopaico quanto do jogo logopaico do poema.
Está CORRETO o que se afirma em
Texto I
Vaso Grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois...Mais o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas há de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
(ALBERTO DE OLIVEIRA – in Antologia Dos Poetas Brasileiros – Fase Parnasiana. Org. Manuel Bandeira, RJ, Edit.Tecnoprint, p.70, 1967.)
Texto II
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
[expediente protocolo e manifestações de
[apreço ao Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
[no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos uni-
[niversais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de
[exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao quer que seja fora
[de si mesmo
De resto não será lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do
[amante exemplar com cem modelos
[de cartas e as diferentes maneiras de
[agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
- Não quer mais saber de lirismo que não é libertação.
(MANUEL BANDEIRA – Libertinagen, in Poesia Completa e Prosa, Cia José Aguilar Editora, Rio de Janeiro, 1967ª. Os. 247-248)
I – O texto I, um soneto, espécie literária de forma fixa, de autor parnasiano, representa o “lirismo funcionário público” contra o qual investe, de maneira explícita o seu autor, Manuel Bandeira.
II – Tratando-se de um soneto, o texto I apresenta versos decassílabos, rima alternada nos quartetos e entrelaçada nos tercetos. O texto II, afastando-se dessa rigidez, traz versos brancos, ausência de pontuação, além de andamento prosaico.
III – A primeira estrofe do texto I traz um hipérbato (inversão das funções sintáticas), recurso que configura uma “sintaxe de exceção”, criticada por Manuel Bandeira no texto II e recurso recorrente no estilo literário Parnasianismo.
TEXTO
de repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que eu te vi
o dia em que me viste
de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana
(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. 12. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 100.)
O poema de Paulo Leminski, apresentado no Texto, compõe o livro Caprichos & relaxos, publicado no início da década de 1980 e foi reunido no livro Toda Poesia.
Na relação forma/sentido, assinale a alternativa que analisa corretamente o recurso estilístico mais recorrente no poema:
Leia o poema “Ao shopping center”, de José Paulo Paes, e responda à questão.
Pelos teus círculos
vagamos sem rumo
nós almas penadas
do mundo do consumo.
De elevador ao céu
pela escada ao inferno:
os extremos se tocam
no castigo eterno.
Cada loja é um novo
prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
estamos sempre nus.
Nós que por teus círculos
vagamos sem perdão
à espera (até quando?)
da Grande Liquidação.
(PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 73.)
De acordo com o poema, considere as afirmativas a seguir.
I. O poema apresenta rimas – algumas ricas como “cruz” e “nus” – em todas as estrofes.
II. Quanto à métrica, os versos são considerados isossilábicos, pois apresentam o mesmo número de sílabas.
III. Quanto à constituição e distribuição dos versos em estrofes, o poema é considerado um soneto.
IV. O título do poema explica-se por ser um complemento da palavra “odes”, que corresponde à parte do título do livro.
Assinale a alternativa correta.
Leia o poema “Encontro”, retirado do livro Claro enigma (1951), de Carlos Drummond de Andrade.
Encontro
Meu pai perdi no tempo e ganho no sonho.
Se a noite me atribui poder de fuga,
sinto logo meu pai e nele ponho
o olhar, lendo-lhe a face, ruga a ruga.
Está morto, que importa? Inda madruga
e seu rosto, nem triste nem risonho,
é o rosto antigo, o mesmo. E não enxuga
suor algum, na calma de meu sonho.
Oh meu pai arquiteto e fazendeiro!
Faz casas de silêncios, e suas roças
de cinza estão maduras, orvalhadas
por um rio que corre o tempo inteiro
e corre além do tempo, enquanto as nossas
murcham num sopro fontes represadas.
Com base no poema, considere as seguintes afirmativas:
1. É um poema que representa o esforço do poeta em Claro enigma de retomar as formas fixas clássicas, como o soneto e a terça-rima.
2. Seguindo a lógica de organização do soneto, nos dois primeiros quartetos, o eu-lírico apresenta o encontro com seu pai no plano onírico e, nos dois tercetos, avalia o que esse mesmo pai construiu após a morte, no plano espiritual (“casas de silêncios” e “roças de cinza” que são irrigadas por um rio atemporal).
3. Em “Encontro”, o eu-lírico, filho de um arquiteto e fazendeiro falecido, percebe que o que ele conseguiu construir até então é muito menor, segundo a sua perspectiva, quando comparado ao que supostamente seu pai construiu.
4. A figura do pai é um elemento muito importante para a poética de Drummond e ele reaparece no poema “A mesa”, também presente em Claro enigma.
Assinale a alternativa correta.
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