UEMA 2018 PAES
65 Questões
Considerando que os textos podem dialogar entre si, leia o poema de Adélia Prado e, em seguida, compare com versos selecionados de outros autores para responder à questão 01.
Texto I
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
− dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Os versos que apresentam diálogo com esse poema são
Texto II
Bucólica nostálgica
Ao entardecer no mato, a casa entre
bananeiras, pés-de-manjericão e cravo-santo,
aparece dourada. Dentro dela, agachados,
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo,
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis,
muitas vezes abóbora.
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar,
entre enxada e sono: Louvado seja Deus!
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
A poesia Bucólica nostálgica traduz artisticamente o cotidiano de homens comuns que jantam ao entardecer numa casa simples. No bucólico espaço em que se encontram, revela-se
Texto
Bucólica nostálgica
Ao entardecer no mato, a casa entre
bananeiras, pés-de-manjericão e cravo-santo,
aparece dourada. Dentro dela, agachados,
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo,
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis,
muitas vezes abóbora.
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar,
entre enxada e sono: Louvado seja Deus!
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
A expressão “aí mesmo”, no texto, denota, ao mesmo tempo localização e inclusão, e gera a possibilidade de
Texto
Solar
Minha mãe cozinhava exatamente:
arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Nesse texto poético, fala-se de uma mãe que canta ao mesmo tempo em que faz o preparo racional dos alimentos. A introdução do verbo cantar pela conjunção mas, nesse contexto, anuncia, além da ressalva,
O capítulo, a seguir, extraído de Dias e Dias, de Ana Miranda, integra a segunda parte do livro intitulada “Um sabiá na gaiola”. Leia-o com atenção para responder ao que se pede na questão.
Texto IV
Astúcia de caçador
Os sabiás são assim: você não pode caçar um sabiá crescido, porque ele nunca se acostuma na gaiola, ele vai definhando, fica tão triste que nem canta mais, e morre, você também não pode caçar os sabiás filhotes porque eles igualmente morrem quando ficam longe da mãe, então o que o papai fazia era caçar toda a ninhada com ninho e tudo, e caçava a mãe, ele punha a ninhada e o ninho dentro de uma gaiola, a mãe ele deixava solta depois que ela aprendia a encontrar os filhotes no ninho, a mãe vinha trazer as minhocas e as sementes para os filhotes no ninho e papai abria a porta da gaiola, a mãe alimentava os filhotes e ia voar, voltava depois, assim as coisas iam se passando, até que um dia os filhotes ficavam grandes, acostumados com a gaiola, e papai separava os filhotes, levava-os para lugares onde a mãe não os encontrava mais, e a mãe ficava triste, definhava, até morrer. Ele era capaz de palmilhar léguas e léguas para negociar um sabiá por sessenta milréis, porque ouvira falar que tinha um assobio diferente, e estava sempre barganhando gaiolas e pios.
MIRANDA, A. Dias e Dias. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
No capítulo Astúcia de caçador, percebe-se que o discurso literário se utiliza do tom de convencimento para fazer o leitor acreditar na “astúcia” do pai caçador. Essa característica ocorre no uso do (da)
Texto IV
Astúcia de caçador
Os sabiás são assim: você não pode caçar um sabiá crescido, porque ele nunca se acostuma na gaiola, ele vai definhando, fica tão triste que nem canta mais, e morre, você também não pode caçar os sabiás filhotes porque eles igualmente morrem quando ficam longe da mãe, então o que o papai fazia era caçar toda a ninhada com ninho e tudo, e caçava a mãe, ele punha a ninhada e o ninho dentro de uma gaiola, a mãe ele deixava solta depois que ela aprendia a encontrar os filhotes no ninho, a mãe vinha trazer as minhocas e as sementes para os filhotes no ninho e papai abria a porta da gaiola, a mãe alimentava os filhotes e ia voar, voltava depois, assim as coisas iam se passando, até que um dia os filhotes ficavam grandes, acostumados com a gaiola, e papai separava os filhotes, levava-os para lugares onde a mãe não os encontrava mais, e a mãe ficava triste, definhava, até morrer. Ele era capaz de palmilhar léguas e léguas para negociar um sabiá por sessenta milréis, porque ouvira falar que tinha um assobio diferente, e estava sempre barganhando gaiolas e pios.
MIRANDA, A. Dias e Dias. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
Infere-se da expressão “barganhando”, no texto IV, ao final do parágrafo, que o pai caçador negociava