FAG 2016/1 Medicina
54 Questões
Texto
Coragem
[1] “A pior coisa do mundo é a pessoa não ter coragem na vida”. Pincei essa frase do relato de uma moça
[2] chamada Florescelia, nascida no Ceará e que passou (e vem passando) poucas e boas: a morte da mãe quando
[3] tinha dois anos, uma madrasta cruel, uma gravidez prematura, a perda do único homem que amou, uma vida sem
[4] porto fixo, sem emprego fixo, mas com sonhos diversos, que lhe servem de sustentação.
[5] Ela segue em frente porque tem o combustível que necessitamos para trilhar o longo caminho desde o
[6] nascimento até a morte. Coragem.
[7] Quando eu era pequena, achava que coragem era o sentimento que designava o ímpeto de fazer coisas
[8] perigosas, e por perigoso eu entendia, por exemplo, andar de tobogã, aquela rampa alta e ondulada em que a gente
[9] descia sentada sobre um saco de algodão ou coisa parecida.
[10] Por volta dos nove anos, decidi descer o tobogã, mas na hora H, amarelei. Faltou coragem. Assim como
[11] faltou também no dia em que meus pais resolveram ir até a Ilha dos Lobos, em Torres, num barco de pescador. No
[12] momento de subir no barco, desisti. Foram meu pai, minha mãe, meu irmão, e eu retornei sozinha, caminhando pela
[13] praia, até a casa da vó.
[14] Muita coragem me faltou na infância: até para colar durante as provas eu ficava nervosa.
[15] Mentir para pai e mãe, nem pensar. Ir de bicicleta até ruas muito distantes de casa, não me atrevia. Travada
[16] desse jeito, desconfiava que meu futuro seria bem diferente do das minhas amigas.
[17] Até que cresci e segui medrosa para andar de helicóptero, escalar vulcões, descer corredeiras d’água. No
[18] entanto, aos poucos fui descobrindo que mais importante do que ter coragem para aventuras de fim de semana, era
[19] ter coragem para aventuras mais definitivas, como a de mudar o rumo da minha vida se preciso fosse. Enfrentar
[20] helicópteros, vulcões, corredeiras e tobogãs exige apenas que tenhamos um bom relacionamento com a adrenalina.
[21] Coragem, mesmo, é preciso para terminar um relacionamento, trocar de profissão, abandonar um país que
[22] não atende nossos anseios, dizer não para propostas lucrativas porém vampirescas, optar por um caminho diferente
[23] do da boiada, confiar mais na intuição do que em estatísticas, arriscar-se a decepções para conhecer o que existe do
[24] outro lado da vida convencional. E, principalmente, coragem para enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto
[25] ela fortalece o ser humano.
[26] Não subi no barco quando criança – e não gosto de barcos até hoje. Vi minha família sair em expedição pelo
[27] mar e voltei sozinha pela praia, uma criança ainda, caminhando em meio ao povo, acreditando que era medrosa.
[28] Mas o que parecia medo era a coragem me dando as boas vindas, me acompanhando naquele recuo solitário,
[29] quando aprendi que toda escolha requer ousadia.
MEDEIROS, Marta. A graça das coisas. Porto Alegre - RS: L&PM, 2014, p. 90-91.
Quanto ao gênero e ao tipo textual, o texto pode ser classificado como um(a):
Texto
Coragem
[1] “A pior coisa do mundo é a pessoa não ter coragem na vida”. Pincei essa frase do relato de uma moça
[2] chamada Florescelia, nascida no Ceará e que passou (e vem passando) poucas e boas: a morte da mãe quando
[3] tinha dois anos, uma madrasta cruel, uma gravidez prematura, a perda do único homem que amou, uma vida sem
[4] porto fixo, sem emprego fixo, mas com sonhos diversos, que lhe servem de sustentação.
[5] Ela segue em frente porque tem o combustível que necessitamos para trilhar o longo caminho desde o
[6] nascimento até a morte. Coragem.
[7] Quando eu era pequena, achava que coragem era o sentimento que designava o ímpeto de fazer coisas
[8] perigosas, e por perigoso eu entendia, por exemplo, andar de tobogã, aquela rampa alta e ondulada em que a gente
[9] descia sentada sobre um saco de algodão ou coisa parecida.
[10] Por volta dos nove anos, decidi descer o tobogã, mas na hora H, amarelei. Faltou coragem. Assim como
[11] faltou também no dia em que meus pais resolveram ir até a Ilha dos Lobos, em Torres, num barco de pescador. No
[12] momento de subir no barco, desisti. Foram meu pai, minha mãe, meu irmão, e eu retornei sozinha, caminhando pela
[13] praia, até a casa da vó.
[14] Muita coragem me faltou na infância: até para colar durante as provas eu ficava nervosa.
[15] Mentir para pai e mãe, nem pensar. Ir de bicicleta até ruas muito distantes de casa, não me atrevia. Travada
[16] desse jeito, desconfiava que meu futuro seria bem diferente do das minhas amigas.
[17] Até que cresci e segui medrosa para andar de helicóptero, escalar vulcões, descer corredeiras d’água. No
[18] entanto, aos poucos fui descobrindo que mais importante do que ter coragem para aventuras de fim de semana, era
[19] ter coragem para aventuras mais definitivas, como a de mudar o rumo da minha vida se preciso fosse. Enfrentar
[20] helicópteros, vulcões, corredeiras e tobogãs exige apenas que tenhamos um bom relacionamento com a adrenalina.
[21] Coragem, mesmo, é preciso para terminar um relacionamento, trocar de profissão, abandonar um país que
[22] não atende nossos anseios, dizer não para propostas lucrativas porém vampirescas, optar por um caminho diferente
[23] do da boiada, confiar mais na intuição do que em estatísticas, arriscar-se a decepções para conhecer o que existe do
[24] outro lado da vida convencional. E, principalmente, coragem para enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto
[25] ela fortalece o ser humano.
[26] Não subi no barco quando criança – e não gosto de barcos até hoje. Vi minha família sair em expedição pelo
[27] mar e voltei sozinha pela praia, uma criança ainda, caminhando em meio ao povo, acreditando que era medrosa.
[28] Mas o que parecia medo era a coragem me dando as boas vindas, me acompanhando naquele recuo solitário,
[29] quando aprendi que toda escolha requer ousadia.
MEDEIROS, Marta. A graça das coisas. Porto Alegre - RS: L&PM, 2014, p. 90-91.
Julgue as afirmações abaixo com base nas noções de sintaxe.
I. Há erro de regência em “tem o combustível que necessitamos” (linha 5).
II. Os verbos “resolveram” (linha 11) e “foram” (linha 12) estão no plural porque têm sujeito composto.
III. A colocação do pronome oblíquo em “que lhe servem de sustentação” (linha 4) obedece à norma padrão.
IV.De acordo com a norma culta, em “Enfrentar helicópteros, vulcões, corredeiras e tobogãs exige...” (linhas 19 e 20), há desvio de concordância.
Está correto o que se afirma em
Texto
Vivemos uma geração em que “tomar um porre” é sinônimo de status. Vi, durante os três últimos anos, amigos que eram totalmente contrários ao exagero etílico tornarem-se verdadeiros bebuns. Uma pena. Eles acreditam que a bebida é a desculpa para se tornarem quem eles não têm coragem de ser sóbrios. Ficam mais “alegres”, sentem-se poderosos, sem limites, porém se esquecem de metade das coisas que ocorreram na noite anterior. Pergunto-me qual seria o grande trunfo de viver dessa maneira.
Será que a influência vem da mídia? Comerciais mostram que consumir cerveja atrai mulheres lindas e momentos agradáveis. Somos manipulados por propagandas? Em parte. De certa forma, a ideia daquela felicidade que nos é vendida gera a ansiedade de conquistá-la por meio da bebida.
Mas todos nós sabemos que felicidade não se compra. A impressão que tenho é a de um hábito intrínseco à passagem para a maturidade, como se a bebida fosse um passaporte à vida adulta. [...] A responsabilidade é o que diferencia as fases da vida, e ser independente é muito mais do que comprar uma garrafa de vodka sem precisar mostrar a identidade.
Cada vez mais novos, somos postos em um mundo de loucura e repressão. As algemas atadas são falsamente libertadas quando o álcool passa a atuar na mente. É tudo mera ilusão. Os problemas continuam, a vida permanece a mesma. A diferença é que, por algumas horas, você é que se aliena. Você é que perde a percepção da realidade. Você é que deixa de vivenciar o que existe de fato para fantasiar.
Vale a pena? Embriaguez, alienação, ou sobriedade... Você pode viver da maneira que quiser, é só uma questão de escolha. No entanto, não se esqueça de que para cada escolha haverá uma consequência, uma renúncia e talvez o arrependimento.
SHIMABUKURO, Márcia. Disponível em: Acesso em 15 fev. 2015 [Adaptado]
No texto, a autora defende a ideia de que a
Texto
Vivemos uma geração em que “tomar um porre” é sinônimo de status. Vi, durante os três últimos anos, amigos que eram totalmente contrários ao exagero etílico tornarem-se verdadeiros bebuns. Uma pena. Eles acreditam que a bebida é a desculpa para se tornarem quem eles não têm coragem de ser sóbrios. Ficam mais “alegres”, sentem-se poderosos, sem limites, porém se esquecem de metade das coisas que ocorreram na noite anterior. Pergunto-me qual seria o grande trunfo de viver dessa maneira.
Será que a influência vem da mídia? Comerciais mostram que consumir cerveja atrai mulheres lindas e momentos agradáveis. Somos manipulados por propagandas? Em parte. De certa forma, a ideia daquela felicidade que nos é vendida gera a ansiedade de conquistá-la por meio da bebida.
Mas todos nós sabemos que felicidade não se compra. A impressão que tenho é a de um hábito intrínseco à passagem para a maturidade, como se a bebida fosse um passaporte à vida adulta. [...] A responsabilidade é o que diferencia as fases da vida, e ser independente é muito mais do que comprar uma garrafa de vodka sem precisar mostrar a identidade.
Cada vez mais novos, somos postos em um mundo de loucura e repressão. As algemas atadas são falsamente libertadas quando o álcool passa a atuar na mente. É tudo mera ilusão. Os problemas continuam, a vida permanece a mesma. A diferença é que, por algumas horas, você é que se aliena. Você é que perde a percepção da realidade. Você é que deixa de vivenciar o que existe de fato para fantasiar.
Vale a pena? Embriaguez, alienação, ou sobriedade... Você pode viver da maneira que quiser, é só uma questão de escolha. No entanto, não se esqueça de que para cada escolha haverá uma consequência, uma renúncia e talvez o arrependimento.
SHIMABUKURO, Márcia. Disponível em: Acesso em 15 fev. 2015 [Adaptado]
São temas abordados no texto, EXCETO
Texto
Vivemos uma geração em que “tomar um porre” é sinônimo de status. Vi, durante os três últimos anos, amigos que eram totalmente contrários ao exagero etílico tornarem-se verdadeiros bebuns. Uma pena. Eles acreditam que a bebida é a desculpa para se tornarem quem eles não têm coragem de ser sóbrios. Ficam mais “alegres”, sentem-se poderosos, sem limites, porém se esquecem de metade das coisas que ocorreram na noite anterior. Pergunto-me qual seria o grande trunfo de viver dessa maneira.
Será que a influência vem da mídia? Comerciais mostram que consumir cerveja atrai mulheres lindas e momentos agradáveis. Somos manipulados por propagandas? Em parte. De certa forma, a ideia daquela felicidade que nos é vendida gera a ansiedade de conquistá-la por meio da bebida.
Mas todos nós sabemos que felicidade não se compra. A impressão que tenho é a de um hábito intrínseco à passagem para a maturidade, como se a bebida fosse um passaporte à vida adulta. [...] A responsabilidade é o que diferencia as fases da vida, e ser independente é muito mais do que comprar uma garrafa de vodka sem precisar mostrar a identidade.
Cada vez mais novos, somos postos em um mundo de loucura e repressão. As algemas atadas são falsamente libertadas quando o álcool passa a atuar na mente. É tudo mera ilusão. Os problemas continuam, a vida permanece a mesma. A diferença é que, por algumas horas, você é que se aliena. Você é que perde a percepção da realidade. Você é que deixa de vivenciar o que existe de fato para fantasiar.
Vale a pena? Embriaguez, alienação, ou sobriedade... Você pode viver da maneira que quiser, é só uma questão de escolha. No entanto, não se esqueça de que para cada escolha haverá uma consequência, uma renúncia e talvez o arrependimento.
SHIMABUKURO, Márcia. Disponível em: Acesso em 15 fev. 2015 [Adaptado]
No trecho “Mas todos nós sabemos que felicidade não se compra.”, o termo sublinhado pode ser substituído, sem alteração de sentido do texto, por:
Texto
A CHAVE
Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo
IVAN MARTINS
Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.
O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.
Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de confiança.
Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.
Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que uma porta. Abre um novo tempo.
O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.
[...]
Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais estarão sozinhos.
Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.
[...]
A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.
Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.
Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca, oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html
Em relação ao texto, assinale a alternativa correta.