PUC-Campinas 2019
50 Questões
Atenção: Leia atentamente o texto abaixo para responder à questão.
Relativismos e divisões
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.
O certo é que os praticantes do relativismo não têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista, a resposta não parece difícil, mas um relativista não apenas hesitará na resposta como duvidará do mérito da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o que é pecado? Numa rebelião popular contra uma ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri. Numa eleição é frequente que o relativista se abstenha. Ah, a política, que prato cheio para os relativistas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiadores, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da escolha, esta que é o inferno dos relativistas.
O relativismo comparece em todas as áreas. Quem foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais, ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas, que “É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as posições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião. O fenômeno contemporâneo das migrações em massa abre discussão sobre o papel ou a existência mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá-las que nasceu a decantada globalização?
No campo das artes, as divisões e os ângulos são incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantismo? A consagração religiosa na disciplina de Bach ou a energia individualista e trágica de Beethoven? Música para ouvir ou para dançar? A revolução russa ganha força num filme histórico ou a denúncia revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em movimento regular, diminuem a arte da pintura naturalista? A pureza do som digital revela-se mais artificial do que o som das gravações em vinil?
Um teste vocacional parece ser concebido por relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como resultado a indicação de duas carreiras muito distintas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, decisivas para a compreensão da hereditariedade, ou de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu como protagonista um festejado compositor de polcas, música alegre e dançante, que preferiria ser o autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos – e o narrador de Machado concluiu que esse pobre pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a vocação”, amargando esse duro movimento do pêndulo, tão característico das pessoas divididas.
Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde passa a força decisiva das informações, nos dias que correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é um duradouro instrumento de justiça ou medida emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto ou deve ceder espaço para diferentes manifestações religiosas? Os currículos escolares devem se orientar por princípios centralizadores ou seguir inclinações regionais? Têm os homens algum papel nas afirmações do feminismo? A sexualidade tem a ver com gêneros, e há definições a fixar nesse campo delicado dos desejos e das identidades?
É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
(Aristeu Gonçalves Filho, inédito)
Afirma-se com correção:
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Relativismos e divisões
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.
O certo é que os praticantes do relativismo não têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista, a resposta não parece difícil, mas um relativista não apenas hesitará na resposta como duvidará do mérito da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o que é pecado? Numa rebelião popular contra uma ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri. Numa eleição é frequente que o relativista se abstenha. Ah, a política, que prato cheio para os relativistas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiadores, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da escolha, esta que é o inferno dos relativistas.
O relativismo comparece em todas as áreas. Quem foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais, ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas, que “É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as posições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião. O fenômeno contemporâneo das migrações em massa abre discussão sobre o papel ou a existência mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá-las que nasceu a decantada globalização?
No campo das artes, as divisões e os ângulos são incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantismo? A consagração religiosa na disciplina de Bach ou a energia individualista e trágica de Beethoven? Música para ouvir ou para dançar? A revolução russa ganha força num filme histórico ou a denúncia revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em movimento regular, diminuem a arte da pintura naturalista? A pureza do som digital revela-se mais artificial do que o som das gravações em vinil?
Um teste vocacional parece ser concebido por relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como resultado a indicação de duas carreiras muito distintas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, decisivas para a compreensão da hereditariedade, ou de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu como protagonista um festejado compositor de polcas, música alegre e dançante, que preferiria ser o autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos – e o narrador de Machado concluiu que esse pobre pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a vocação”, amargando esse duro movimento do pêndulo, tão característico das pessoas divididas.
Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde passa a força decisiva das informações, nos dias que correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é um duradouro instrumento de justiça ou medida emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto ou deve ceder espaço para diferentes manifestações religiosas? Os currículos escolares devem se orientar por princípios centralizadores ou seguir inclinações regionais? Têm os homens algum papel nas afirmações do feminismo? A sexualidade tem a ver com gêneros, e há definições a fixar nesse campo delicado dos desejos e das identidades?
É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
(Aristeu Gonçalves Filho, inédito)
Considerado o parágrafo 3, comenta-se com correção:
Atenção: Leia atentamente o texto abaixo para responder à questão.
Relativismos e divisões
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.
O certo é que os praticantes do relativismo não têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista, a resposta não parece difícil, mas um relativista não apenas hesitará na resposta como duvidará do mérito da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o que é pecado? Numa rebelião popular contra uma ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri. Numa eleição é frequente que o relativista se abstenha. Ah, a política, que prato cheio para os relativistas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiadores, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da escolha, esta que é o inferno dos relativistas.
O relativismo comparece em todas as áreas. Quem foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais, ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas, que “É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as posições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião. O fenômeno contemporâneo das migrações em massa abre discussão sobre o papel ou a existência mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá-las que nasceu a decantada globalização?
No campo das artes, as divisões e os ângulos são incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantismo? A consagração religiosa na disciplina de Bach ou a energia individualista e trágica de Beethoven? Música para ouvir ou para dançar? A revolução russa ganha força num filme histórico ou a denúncia revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em movimento regular, diminuem a arte da pintura naturalista? A pureza do som digital revela-se mais artificial do que o som das gravações em vinil?
Um teste vocacional parece ser concebido por relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como resultado a indicação de duas carreiras muito distintas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, decisivas para a compreensão da hereditariedade, ou de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu como protagonista um festejado compositor de polcas, música alegre e dançante, que preferiria ser o autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos – e o narrador de Machado concluiu que esse pobre pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a vocação”, amargando esse duro movimento do pêndulo, tão característico das pessoas divididas.
Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde passa a força decisiva das informações, nos dias que correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é um duradouro instrumento de justiça ou medida emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto ou deve ceder espaço para diferentes manifestações religiosas? Os currículos escolares devem se orientar por princípios centralizadores ou seguir inclinações regionais? Têm os homens algum papel nas afirmações do feminismo? A sexualidade tem a ver com gêneros, e há definições a fixar nesse campo delicado dos desejos e das identidades?
É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
(Aristeu Gonçalves Filho, inédito)
... o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião (parágrafo 3).
Depreende-se corretamente da frase acima, respeitado o contexto em que está inserida:
Atenção: Leia atentamente o texto abaixo para responder à questão.
Relativismos e divisões
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.
O certo é que os praticantes do relativismo não têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista, a resposta não parece difícil, mas um relativista não apenas hesitará na resposta como duvidará do mérito da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o que é pecado? Numa rebelião popular contra uma ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri. Numa eleição é frequente que o relativista se abstenha. Ah, a política, que prato cheio para os relativistas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiadores, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da escolha, esta que é o inferno dos relativistas.
O relativismo comparece em todas as áreas. Quem foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais, ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas, que “É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as posições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião. O fenômeno contemporâneo das migrações em massa abre discussão sobre o papel ou a existência mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá-las que nasceu a decantada globalização?
No campo das artes, as divisões e os ângulos são incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantismo? A consagração religiosa na disciplina de Bach ou a energia individualista e trágica de Beethoven? Música para ouvir ou para dançar? A revolução russa ganha força num filme histórico ou a denúncia revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em movimento regular, diminuem a arte da pintura naturalista? A pureza do som digital revela-se mais artificial do que o som das gravações em vinil?
Um teste vocacional parece ser concebido por relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como resultado a indicação de duas carreiras muito distintas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, decisivas para a compreensão da hereditariedade, ou de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu como protagonista um festejado compositor de polcas, música alegre e dançante, que preferiria ser o autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos – e o narrador de Machado concluiu que esse pobre pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a vocação”, amargando esse duro movimento do pêndulo, tão característico das pessoas divididas.
Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde passa a força decisiva das informações, nos dias que correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é um duradouro instrumento de justiça ou medida emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto ou deve ceder espaço para diferentes manifestações religiosas? Os currículos escolares devem se orientar por princípios centralizadores ou seguir inclinações regionais? Têm os homens algum papel nas afirmações do feminismo? A sexualidade tem a ver com gêneros, e há definições a fixar nesse campo delicado dos desejos e das identidades?
É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
(Aristeu Gonçalves Filho, inédito)
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.
Considerado o parágrafo acima, comenta-se com propriedade:
Atenção: Leia atentamente o texto abaixo para responder à questão.
Relativismos e divisões
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.
O certo é que os praticantes do relativismo não têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista, a resposta não parece difícil, mas um relativista não apenas hesitará na resposta como duvidará do mérito da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o que é pecado? Numa rebelião popular contra uma ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri. Numa eleição é frequente que o relativista se abstenha. Ah, a política, que prato cheio para os relativistas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiadores, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da escolha, esta que é o inferno dos relativistas.
O relativismo comparece em todas as áreas. Quem foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais, ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas, que “É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as posições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião. O fenômeno contemporâneo das migrações em massa abre discussão sobre o papel ou a existência mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá-las que nasceu a decantada globalização?
No campo das artes, as divisões e os ângulos são incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantismo? A consagração religiosa na disciplina de Bach ou a energia individualista e trágica de Beethoven? Música para ouvir ou para dançar? A revolução russa ganha força num filme histórico ou a denúncia revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em movimento regular, diminuem a arte da pintura naturalista? A pureza do som digital revela-se mais artificial do que o som das gravações em vinil?
Um teste vocacional parece ser concebido por relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como resultado a indicação de duas carreiras muito distintas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, decisivas para a compreensão da hereditariedade, ou de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu como protagonista um festejado compositor de polcas, música alegre e dançante, que preferiria ser o autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos – e o narrador de Machado concluiu que esse pobre pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a vocação”, amargando esse duro movimento do pêndulo, tão característico das pessoas divididas.
Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde passa a força decisiva das informações, nos dias que correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é um duradouro instrumento de justiça ou medida emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto ou deve ceder espaço para diferentes manifestações religiosas? Os currículos escolares devem se orientar por princípios centralizadores ou seguir inclinações regionais? Têm os homens algum papel nas afirmações do feminismo? A sexualidade tem a ver com gêneros, e há definições a fixar nesse campo delicado dos desejos e das identidades?
É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
(Aristeu Gonçalves Filho, inédito)
Considere os comentários que seguem à transcrição do parágrafo 7, abaixo reproduzido.
É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
I. A frase É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo traz subentendida a ideia de que contradições próprias do relativismo já existem.
II. O segmento a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto expressa a motivação do autor para manifestar o que considera possível no século XXI.
III. Na frase É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo, a palavra destacada é um pronome reflexivo.
IV. A frase final do texto, em modo de indagação, expressa um convite à reflexão sobre a sociedade contemporânea, especialmente no que se refere a seus paradoxos.
Está correto o que se afirma em
Atenção: Leia atentamente o texto abaixo para responder à questão.
Relativismos e divisões
Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.
O certo é que os praticantes do relativismo não têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista, a resposta não parece difícil, mas um relativista não apenas hesitará na resposta como duvidará do mérito da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o que é pecado? Numa rebelião popular contra uma ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri. Numa eleição é frequente que o relativista se abstenha. Ah, a política, que prato cheio para os relativistas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiadores, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da escolha, esta que é o inferno dos relativistas.
O relativismo comparece em todas as áreas. Quem foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais, ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas, que “É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as posições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião. O fenômeno contemporâneo das migrações em massa abre discussão sobre o papel ou a existência mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá-las que nasceu a decantada globalização?
No campo das artes, as divisões e os ângulos são incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantismo? A consagração religiosa na disciplina de Bach ou a energia individualista e trágica de Beethoven? Música para ouvir ou para dançar? A revolução russa ganha força num filme histórico ou a denúncia revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em movimento regular, diminuem a arte da pintura naturalista? A pureza do som digital revela-se mais artificial do que o som das gravações em vinil?
Um teste vocacional parece ser concebido por relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como resultado a indicação de duas carreiras muito distintas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, decisivas para a compreensão da hereditariedade, ou de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu como protagonista um festejado compositor de polcas, música alegre e dançante, que preferiria ser o autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos – e o narrador de Machado concluiu que esse pobre pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a vocação”, amargando esse duro movimento do pêndulo, tão característico das pessoas divididas.
Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde passa a força decisiva das informações, nos dias que correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é um duradouro instrumento de justiça ou medida emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto ou deve ceder espaço para diferentes manifestações religiosas? Os currículos escolares devem se orientar por princípios centralizadores ou seguir inclinações regionais? Têm os homens algum papel nas afirmações do feminismo? A sexualidade tem a ver com gêneros, e há definições a fixar nesse campo delicado dos desejos e das identidades?
É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?
(Aristeu Gonçalves Filho, inédito)
A alternativa em que se encontra um aposto que realiza uma caracterização é: