PUC-Campinas 2016
50 Questões
O tempo e suas medidas
O homem vive dentro do tempo, o tempo que ele
preenche, mede, avalia, ama e teme. Para marcar a
passagem e as medidas do tempo, inventou o relógio. A
palavra vem do latim horologium, e se refere a um
[5] quadrante do céu que os antigos aprenderam a observar
para se orientarem no tempo e no espaço. Os artefatos
construídos para medir a passagem do tempo sofreram
ao longo dos séculos uma grande evolução. No início o
Sol era a referência natural para a separação entre o dia
[10] e a noite, mas depois os relógios solares foram seguidos
de outros que vieram a utilizar o escoamento de
líquidos, de areia, ou a queima de fluidos, até chegar
aos dispositivos mecânicos que originaram as pêndulas.
Com a eletrônica, surgiram os relógios de quartzo e de
[15] césio, aposentando os chamados “relógios de corda”. O
mostrador digital que está no seu pulso ou no seu
celular tem muita história: tudo teria começado com a
haste vertical ao sol, que projetava sua sombra num
plano horizontal demarcado. A ampulheta e a clepsidra
[20] são as simpáticas bisavós das atuais engenhocas
eletrônicas, e até hoje intrigam e divertem crianças de
todas as idades.
Mas a evolução dos maquinismos humanos que
dividem e medem as horas não suprimiu nem diminuiu a
[25] preocupação dos homens com o Tempo, essa entidade
implacável, sempre a lembrar a condição da nossa
mortalidade. Na mitologia grega, o deus Chronos era o
senhor do tempo que se podia medir, por isso chamado
“cronológico”, a fluir incessantemente. No entanto, a
[30] memória e a imaginação humanas criam tempos outros:
uma autobiografia recupera o passado, a ficção
científica pretende vislumbrar o futuro. No Brasil, muito
da força de um José Lins do Rego, de um Manuel
Bandeira ou de um Pedro Nava vem do memorialismo
[35] artisticamente trabalhado. A própria história nacional
sofre os efeitos de uma intervenção no passado:
escritores românticos, logo depois da Independência,
sentiram necessidade de emprestar ao país um passado
glorioso, e recorreram às idealizações do Indianismo.
[40] No cinema, uma das homenagens mais bonitas ao
tempo passado é a do filme Amarcord (“eu me recor
do”, em dialeto italiano), do cineasta Federico Fellini.
São lembranças pessoais de uma época dura, quando o
fascismo crescia e dominava a Itália. Já um tempo futuro
[45] terrivelmente sombrio é projetado no filme “Blade
Runner, o caçador de androides”, do diretor Ridley
Scott, no cenário futurista de uma metrópole caótica.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o
tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o
[50] tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no
filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e
eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris.
Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação espe
cial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produ
[55] zem melodias, adensando as horas com seu envo
lvimento.
São diferentes as qualidades do tempo e as cir
cunstâncias de seus respectivos relógios: há o “relógio
biológico”, que regula o ritmo do nosso corpo; há o
[60] “relógio de ponto”, que controla a presença do traba
lhador numa empresa; e há a necessidade de “acertar
os relógios”, para combinar uma ação em grupo; há o
desafio de “correr contra o relógio”, obrigando-nos à
pressa; e há quem “seja como um relógio”, quando ex
[65] tremamente pontual.
Por vezes barateamos o sentido do tempo, tor
nando-o uma espécie de vazio a preencher: é quando
fazemos algo para “passar o tempo”, e apelamos para
um jogo, uma brincadeira, um “passatempo” como as
[70] palavras cruzadas. Em compensação, nas horas de
grande expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não
passa”. “Tempo é dinheiro” é o lema dos capitalistas e
investidores e dos operadores da Bolsa; e é uma obses
são para os atletas olímpicos em busca de recordes.
[75] Nos relógios primitivos, nos cronômetros sofis
ticados, nos sinos das velhas igrejas, no pulsar do
coração e da pressão das artérias, a expressão do
tempo se confunde com a evidência mesma do que é
vivo. No tic-tac da pêndula de um relógio de sala, na
[80] casa da avó, os netinhos ouvem inconscientemente o
tempo passar. O Big Ben londrino marcou horas terríveis
sob o bombardeio nazista. Na passagem de um ano
para outro, contamos os últimos dez segundos cantando
e festejando, na esperança de um novo tempo, de um
[85] ano melhor.
(Péricles Alcântara, inédito)
O autor,
O tempo e suas medidas
O homem vive dentro do tempo, o tempo que ele
preenche, mede, avalia, ama e teme. Para marcar a
passagem e as medidas do tempo, inventou o relógio. A
palavra vem do latim horologium, e se refere a um
[5] quadrante do céu que os antigos aprenderam a observar
para se orientarem no tempo e no espaço. Os artefatos
construídos para medir a passagem do tempo sofreram
ao longo dos séculos uma grande evolução. No início o
Sol era a referência natural para a separação entre o dia
[10] e a noite, mas depois os relógios solares foram seguidos
de outros que vieram a utilizar o escoamento de
líquidos, de areia, ou a queima de fluidos, até chegar
aos dispositivos mecânicos que originaram as pêndulas.
Com a eletrônica, surgiram os relógios de quartzo e de
[15] césio, aposentando os chamados “relógios de corda”. O
mostrador digital que está no seu pulso ou no seu
celular tem muita história: tudo teria começado com a
haste vertical ao sol, que projetava sua sombra num
plano horizontal demarcado. A ampulheta e a clepsidra
[20] são as simpáticas bisavós das atuais engenhocas
eletrônicas, e até hoje intrigam e divertem crianças de
todas as idades.
Mas a evolução dos maquinismos humanos que
dividem e medem as horas não suprimiu nem diminuiu a
[25] preocupação dos homens com o Tempo, essa entidade
implacável, sempre a lembrar a condição da nossa
mortalidade. Na mitologia grega, o deus Chronos era o
senhor do tempo que se podia medir, por isso chamado
“cronológico”, a fluir incessantemente. No entanto, a
[30] memória e a imaginação humanas criam tempos outros:
uma autobiografia recupera o passado, a ficção
científica pretende vislumbrar o futuro. No Brasil, muito
da força de um José Lins do Rego, de um Manuel
Bandeira ou de um Pedro Nava vem do memorialismo
[35] artisticamente trabalhado. A própria história nacional
sofre os efeitos de uma intervenção no passado:
escritores românticos, logo depois da Independência,
sentiram necessidade de emprestar ao país um passado
glorioso, e recorreram às idealizações do Indianismo.
[40] No cinema, uma das homenagens mais bonitas ao
tempo passado é a do filme Amarcord (“eu me recor
do”, em dialeto italiano), do cineasta Federico Fellini.
São lembranças pessoais de uma época dura, quando o
fascismo crescia e dominava a Itália. Já um tempo futuro
[45] terrivelmente sombrio é projetado no filme “Blade
Runner, o caçador de androides”, do diretor Ridley
Scott, no cenário futurista de uma metrópole caótica.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o
tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o
[50] tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no
filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e
eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris.
Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação espe
cial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produ
[55] zem melodias, adensando as horas com seu envo
lvimento.
São diferentes as qualidades do tempo e as cir
cunstâncias de seus respectivos relógios: há o “relógio
biológico”, que regula o ritmo do nosso corpo; há o
[60] “relógio de ponto”, que controla a presença do traba
lhador numa empresa; e há a necessidade de “acertar
os relógios”, para combinar uma ação em grupo; há o
desafio de “correr contra o relógio”, obrigando-nos à
pressa; e há quem “seja como um relógio”, quando ex
[65] tremamente pontual.
Por vezes barateamos o sentido do tempo, tor
nando-o uma espécie de vazio a preencher: é quando
fazemos algo para “passar o tempo”, e apelamos para
um jogo, uma brincadeira, um “passatempo” como as
[70] palavras cruzadas. Em compensação, nas horas de
grande expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não
passa”. “Tempo é dinheiro” é o lema dos capitalistas e
investidores e dos operadores da Bolsa; e é uma obses
são para os atletas olímpicos em busca de recordes.
[75] Nos relógios primitivos, nos cronômetros sofis
ticados, nos sinos das velhas igrejas, no pulsar do
coração e da pressão das artérias, a expressão do
tempo se confunde com a evidência mesma do que é
vivo. No tic-tac da pêndula de um relógio de sala, na
[80] casa da avó, os netinhos ouvem inconscientemente o
tempo passar. O Big Ben londrino marcou horas terríveis
sob o bombardeio nazista. Na passagem de um ano
para outro, contamos os últimos dez segundos cantando
e festejando, na esperança de um novo tempo, de um
[85] ano melhor.
(Péricles Alcântara, inédito)
Sobre o que se tem no parágrafo 2, em seu contexto, é correto afirmar:
A questão refere-se ao parágrafo abaixo, em seu contexto.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris. Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação especial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produzem melodias, adensando as horas com seu envolvimento.
Considere o parágrafo e o verbete extraído do Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
□ aliás
advérbio
1 de outro modo, de outra forma
Ex.: sempre ajudou o filho, a. seria mau pai se não o fizesse
2 além disso
Ex.: a., não era a primeira sujeira que ele fazia
3 emprega-se em seguida a uma palavra proferida ou escrita por equívoco; ou melhor, digo
Ex.: estávamos em março, a., abril
4 seja dito de passagem; verdade seja dita; a propósito
Ex.: não aceitou o emprego, que a. é muito cobiçado
5 no entanto, contudo
Ex.: andar muito é cansativo, sem, a., deixar de ser saudável
O sentido preciso com que a palavra aliás foi empregada no texto está indicado em
A questão refere-se ao parágrafo abaixo, em seu contexto.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris. Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação especial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produzem melodias, adensando as horas com seu envolvimento.
Compreende-se adequadamente do parágrafo transcrito, em seu contexto:
A questão refere-se ao parágrafo abaixo, em seu contexto.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris. Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação especial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produzem melodias, adensando as horas com seu envolvimento.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o tempo construído pela arte abre-se para a poesia.
Comenta-se corretamente sobre o que o segmento acima expressa, em seu contexto:
O tempo e suas medidas
O homem vive dentro do tempo, o tempo que ele
preenche, mede, avalia, ama e teme. Para marcar a
passagem e as medidas do tempo, inventou o relógio. A
palavra vem do latim horologium, e se refere a um
[5] quadrante do céu que os antigos aprenderam a observar
para se orientarem no tempo e no espaço. Os artefatos
construídos para medir a passagem do tempo sofreram
ao longo dos séculos uma grande evolução. No início o
Sol era a referência natural para a separação entre o dia
[10] e a noite, mas depois os relógios solares foram seguidos
de outros que vieram a utilizar o escoamento de
líquidos, de areia, ou a queima de fluidos, até chegar
aos dispositivos mecânicos que originaram as pêndulas.
Com a eletrônica, surgiram os relógios de quartzo e de
[15] césio, aposentando os chamados “relógios de corda”. O
mostrador digital que está no seu pulso ou no seu
celular tem muita história: tudo teria começado com a
haste vertical ao sol, que projetava sua sombra num
plano horizontal demarcado. A ampulheta e a clepsidra
[20] são as simpáticas bisavós das atuais engenhocas
eletrônicas, e até hoje intrigam e divertem crianças de
todas as idades.
Mas a evolução dos maquinismos humanos que
dividem e medem as horas não suprimiu nem diminuiu a
[25] preocupação dos homens com o Tempo, essa entidade
implacável, sempre a lembrar a condição da nossa
mortalidade. Na mitologia grega, o deus Chronos era o
senhor do tempo que se podia medir, por isso chamado
“cronológico”, a fluir incessantemente. No entanto, a
[30] memória e a imaginação humanas criam tempos outros:
uma autobiografia recupera o passado, a ficção
científica pretende vislumbrar o futuro. No Brasil, muito
da força de um José Lins do Rego, de um Manuel
Bandeira ou de um Pedro Nava vem do memorialismo
[35] artisticamente trabalhado. A própria história nacional
sofre os efeitos de uma intervenção no passado:
escritores românticos, logo depois da Independência,
sentiram necessidade de emprestar ao país um passado
glorioso, e recorreram às idealizações do Indianismo.
[40] No cinema, uma das homenagens mais bonitas ao
tempo passado é a do filme Amarcord (“eu me recor
do”, em dialeto italiano), do cineasta Federico Fellini.
São lembranças pessoais de uma época dura, quando o
fascismo crescia e dominava a Itália. Já um tempo futuro
[45] terrivelmente sombrio é projetado no filme “Blade
Runner, o caçador de androides”, do diretor Ridley
Scott, no cenário futurista de uma metrópole caótica.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o
tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o
[50] tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no
filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e
eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris.
Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação espe
cial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produ
[55] zem melodias, adensando as horas com seu envo
lvimento.
São diferentes as qualidades do tempo e as cir
cunstâncias de seus respectivos relógios: há o “relógio
biológico”, que regula o ritmo do nosso corpo; há o
[60] “relógio de ponto”, que controla a presença do traba
lhador numa empresa; e há a necessidade de “acertar
os relógios”, para combinar uma ação em grupo; há o
desafio de “correr contra o relógio”, obrigando-nos à
pressa; e há quem “seja como um relógio”, quando ex
[65] tremamente pontual.
Por vezes barateamos o sentido do tempo, tor
nando-o uma espécie de vazio a preencher: é quando
fazemos algo para “passar o tempo”, e apelamos para
um jogo, uma brincadeira, um “passatempo” como as
[70] palavras cruzadas. Em compensação, nas horas de
grande expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não
passa”. “Tempo é dinheiro” é o lema dos capitalistas e
investidores e dos operadores da Bolsa; e é uma obses
são para os atletas olímpicos em busca de recordes.
[75] Nos relógios primitivos, nos cronômetros sofis
ticados, nos sinos das velhas igrejas, no pulsar do
coração e da pressão das artérias, a expressão do
tempo se confunde com a evidência mesma do que é
vivo. No tic-tac da pêndula de um relógio de sala, na
[80] casa da avó, os netinhos ouvem inconscientemente o
tempo passar. O Big Ben londrino marcou horas terríveis
sob o bombardeio nazista. Na passagem de um ano
para outro, contamos os últimos dez segundos cantando
e festejando, na esperança de um novo tempo, de um
[85] ano melhor.
(Péricles Alcântara, inédito)
Por vezes barateamos o sentido do tempo, tornando-o uma espécie de vazio a preencher: é quando fazemos algo para “passar o tempo”, e apelamos para um jogo, uma brincadeira, um “passatempo” como as palavras cruzadas. Em compensação, nas horas de grande expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não passa”.
No trecho acima transcrito,